-Acho que eu sou Nova Iorque e você é Uberaba.
Ela disse isso assim, de repente sem o menor precedente no meio de um jogo de futebol importantíssimo.
-Pois é!
Tava tão concentrado no jogo que qualquer coisa que ela falasse eu iria concordar só pra ela não falar mais, mas aí foi meu erro.
-Você concorda que sou muito pra você?
Não, eu não concordava porque quem chegou primeiro foi ela, então pelo menos no começo do namoro eu era muito pra ela.
-Sei lá! Talvez sim, talvez não. Talvez eu seja muito pra você também e isso equilibre tudo.
Jurei que ao dizer “isso equilibre tudo” eu iria encerrar aquele assunto nada a ver, mas outro engano meu.
-Como assim você também é muito pra mim?
-Eu disse “talvez”.
-Você se acha muito.
Pronto! Lá se iam meu jogo, meu sossego e minha noite de loucuras amorosas. Desliguei a televisão
-Eu não me acho muito porque não fui eu que disse “Acho que eu sou Nova Iorque e você é Uberaba”. O que, aliás, não foi nada, nada legal com a cidade de Uberaba. Você acha que Uberaba é inferior à Nova Iorque?
Ará! Tinha achado outro assunto, logo, logo ela se cansava e pronto, lá ia eu assistir meu jogo, recuperar meu sossego e ter minha noite de loucuras amorosas.
-Não! Não é isso. Só tava comparando o tamanho é a importância no mundo dos negócios.
-Eu acho que Uberaba seja muito importante no mundo dos negócios.
-Que negócios?
-Os negócios de queijo Minas. Muito importante pra mim que adoro queijo Minas.
- Mas se jogassem um avião na fábrica de queijo Minas não ia acontecer muita coisa.
Tinha conseguido! Muito pra mim? Eu que era muito inteligente na arte de mudar de assunto e ela nem perceber pra ela.
-Como não? E os trabalhadores e familiares que iam sofrer muito.
Liguei a televisão.
-Ah! Ia ter uma repercussão nacional de no máximo dois dias e pronto. Ninguém ia pensar que seriam terroristas.
Acomodei-me melhor na cadeira, tomei um gole de cerveja, sorri.
-Como não? É claro que terroristas iam querer explodir uma fábrica de um produto tão conhecido. Ia desestabiliza todo o mercado.
Ela tava pensativa. Ela ia desistir. Ela ia deitar e eu ia atrás.
-Ah! Assunto chato! Vou dormir. Assiste aí a seu jogo.
Pronto! Tinha conseguido acabar com o assunto chato, com inicio de briga, com falatório noite adentro e tudo mais.
-Calma amor, vou com você.
...
-Mas espera aí, não era sobre Uberaba e seu queijo Minas que eu queria conversar.
-Deixa pra amanhã, amor. Deixa pra amanhã.
