2 de junho de 2007

Veja, a vida é assim

A história começa pelo meio com ela tendo um bebê em um hospital no meio do centro da cidade. A história teria aí um começo feliz, mas pra ela aquilo era quase o fim. Foi parar nesse hospital porque alguém a tinha visto tendo dores no meio da rua. Por ela teria dado a luz no meio da rua mesmo, pro bebê já nascer vendo o que é a vida.
“Veja, é assim que a vida é.”
Não planejou aquilo tudo, na verdade aquele bebê, tinha sim, sido planejado, mas a fuga desesperado do pai que não tinha sido planejada. Ela ter que cuidar dele sozinha não estava planejado. O planejamento tinha sido feito antes de ela engravidar.
A família ia ser linda, o pai ia trabalhar em uma loja de departamentos, ela ia digitar trabalhos para os outros a um preço camarada. O bebê ia nascer no meio de felicidade e amor. No terceiro mês de gravidez o pai se desesperou, disse que não tinha suporte emocional pra aquilo tudo. Não tinha idade e nem cabeça pra ter um filho, ainda mais com ela que talvez nem fosse a mulher da vida dele.
E eis que ali estava ela depois de várias tentativas de tirar aquele filho da barriga antes de ele estar pronto pra sair. Ele finalmente nascia no meio de choro, em um hospital no meio do centro da cidade.
A dor quase que foi imperceptível diante da amargura de estar fazendo aquilo. Não o queria e tinha certeza que ele sentia isso. Nunca um bebê custou tanto a nascer. Ele queria ficar lá dentro porque ele não podia enxergar os olhos tristes e cheios de decepção da sua mãe.
Ele nasceu finalmente. Um peso gigante caiu sob sua cabeça, mas ela o viu. Viu os dedinhos, a boquinha pequena, os pezinhos, as perninhas, viu ele, ali indefeso. Ouviu seu choro pela primeira vez e sentiu seu peso contra seu peito pela primeira vez. Jurou pra si mesma que aquela não seria a última vez. Esse não era o fim da história deles juntos.