Na frente da minha casa mora um casal que eu acredito serem idosos. Não sei, nunca vi a cara deles direito. Eu sei que o homem é taxista, a mulher eu nunca vi mesmo.
A casa deles tem o formato de um estranho, parece um caixote com telhado. As paredes de fora, que são as que eu vejo, estão todas descascando, a grama além de estar marrom e seca, cresce e ninguém corta.
Mas ta, até aí o problema é deles e não meu. O meu começa no momento que esse casal tem dois cachorros: Sadan e Samantha. Dois pastores-alemão. Dois cachorros insuportáveis. Eles latem no meio da noite, eles latem no meio da tarde, eles latem no começo da manhã, eles latem até ficarem roucos de tanto latir. Mas o pior é eles são cachorros e cachorros fazem suas necessidades em qualquer lugar e se ele mora em uma casa, os donos vão e limpam as fezes, mas adivinha? Os velhos simplesmente não limpam. Eu acho que é por isso que a grama deles cresce tão rápido: os cachorros adubam. Aí vem o sol, esquenta aquele monte de m* o cheiro se alastra por todo condomínio, mas principalmente atinge o alvo mais perto: minha casa.
Com os cachorros eu não me importo mais. Cansei de me estressar com isso. Se os velhos são surdos e não sentem cheiro aí é com os seus respectivos médicos e não comigo. A ultima novidade é que anda me incomodando.
No dia dos pais, eu ouvi um comentário, mas nem achei que fosse de verdade. Talvez fosse um temperado e assado. Mas foi aí que na segunda de manhã (de manhã nada, de madrugada) ele soltou seu primeiro canto. O velho tinha ganhado um galo de dia dos pais. Que filho em são consciência dá um galo pro pai? E o galo canta todo dia a hora que ele bem entender. De manhã, de tarde, de noite e principalmente de madrugada. Sadan e Samantha nem abrem mais a boca, as fezes deles nem fazem mais tanto fedor igual ao cheiro horrível do galo que, quando canta bate as asas.
Disso que eu tirei conclusões: se antes eu achava que morava na roça, agora eu tenho certeza e filho de doido, doido é.
