15 de maio de 2008

Sobre como ser feliz

Eu sempre fui muito exigente comigo mesmo. Talvez as pessoas ao meu redor nunca tenham reparado. Talvez eu nunca me deixei mostrar assim: a psicótica perfeccionista. Na verdade, eu não era assim com os outros, eu era comigo mesmo. Eu me negava falhar em hipótese alguma. Eu sempre falhava. Quando o assunto era relacionamento com meninos então... Fracasso era a minha palavra de ordem.
Quando eu conheci o Paulo, eu estava confusa, descrente do amor romântico e de toda baboseira de namoradinhos. Quando eu conheci o Paulo eu havia acabado de falhar. Tinha saído de um “namoro” no qual eu tinha colocado todas as minhas forças e esperanças. Sabe, tipo “agora vai!”. Não foi! Fui contra a opinião de todo mundo e falhei. Hoje em dia talvez eu nem ponha toda a culpa em mim. Hoje em dia eu acho que o menino não era maduro o suficiente para o tipo de relacionamento que eu estava oferecendo a ele. Na época o fracasso doeu.
Conheci o Paulo porque ele era da sala da minha prima e era amigo do namorado dela. Na verdade, no início eu não conheci, assim no sentido certo da palavra. Eu fui apresentada a ele em um show do Los Hermanos. Ele sentado meio embriagado, olha para mim e diz “oi!” e aperta minha mão com um olhar que dizia: “eu não tenho a mínima de quem seja você, não vou me lembrar desse momento nunca mais, mas oi”. Eu disse “e ai!”, mas ele pareceu não ouvir e eu também não queria saber se ele tinha ouvido ou não. Esse dia eu não falei mais com ele e ele não se lembra de nada disso hoje em dia.
Um dia minha prima me perguntou “o que você acha do Paulo?”, “o da sua sala?”, perguntei assim meio distraída. “É, tu ficaria com ele?”, “sei lá, acho que uma vez só”. Eu respondi aquilo estando certa que nada daquilo, nem aquela uma única vez aconteceria, mas o certo foi que ela contou pro namorado que perguntou se o Paulo queria ir no cinema com a gente em uma quinta. Ele aceitou porque estava dormindo e queria voltar a dormir sem ser perturbado.
No dia eu perguntei “você vai comer só isso?”, ele respondeu “não” e foi comprar um sorvete. Foi a conversa mais longa que a gente teve. Tirando a parte que ele perguntou se eu tinha algum distúrbio. Não sei se foi uma coisa boa de se perguntar.
O Paulo não me pediu em namoro, ele me perguntou se podia me apresentar como namorada dele para os amigos. Eu respondi um “não sei!” meio confuso, como deve ser os “não sei” ditos por aí. Isso foi em um 8 de abril em um show do Móveis Coloniais de acaju em uma faculdade concorrente. Eu aceitei que ele me apresentasse assim no dia 14 de abril a tarde sentada na rede. Disse “eu me decidi” e ele abriu um sorriso com um olhar que dizia “vou me lembrar desse momento para sempre”.
Uma semana depois eu disse a frase mais imbecil que eu já disse em toda a minha vida: “vamo não namorar?”. Frase mais estúpida não existe. Ele respondeu um “ta” tão indiferente que eu pensei “falhei de novo”. Isso foi em outra quinta. Nossas coisas costumam acontecer nesse dia. Mas foi na sexta que eu percebi que eu havia falhado, sim, mas na hora que eu pedi para acabar. O Paulo é o cara mais diferente que eu já conheci até hoje. Ele tem um ar de rock star dos anos 70 que nenhum outro tem. E eu estava deixando ele escapar porque estava confusa e com medo.
No sábado, na frente de uma igreja, depois de ele me entregar um livro em espanhol comprado por engano, eu perguntei: “namora comigo, minduim?”. Ele disse um “sim” tão bonito que eu pensei “perdeste dessa vez, fracasso”
Ele disse “eu te amo, mulher” sentado em uma lanchonete e ficou com vergonha depois. Ele atende o telefone com um “oi bonitinha” e fica bravo se eu faço muitas perguntas. Ele já me fez chorar e pede desculpa seguida de um “vem aqui”. Ele me faz ouvir músicas e pergunta “gostou, né?!”. Me levou para Belo Horizonte para ver um show que eu nem sabia que a banda existia alguns meses antes e hoje em dia eu sou viciada, tanto que uma das músicas se tornou nossa.
Hoje eu não tenho mais medo de fracassar. Não preciso mais. Tem dois anos e um mês que eu passei a confiar mais em mim. Em nós dois.