20 de novembro de 2009

É melhor previnir do que remediar

Ele só bebia porque queria dormir. Tinha aquela desgraça de insônia há mais de três anos e beber até não poder abrir a porta de casa era a única solução. Corria de bar em bar atrás do santo remédio. Não aguentava ficar acordado imaginando que outros piores que ele estavam no mundo dos sonhos e ele ali, girando de um lado para o outro acreditando que não custaria cinco minutos estaria dormindo.
A peregrinação era grande. Bebia todos os copos que lhe eram servidos. Apertava todas as mãos que lhe eram apresentadas. Ria de todas as piadas bobas que lhe eram contadas. Mas não conseguia parar de pensar que se voltasse para casa naquele instante não conseguiria dormir todos os sonhos que lhe viam a mente. Então ele bebia.
Não gostava do gosto, mas depois de um tempo já havia esquecido. Para ele aquilo não era diversão, era tratamento. A insônia exigia dele muito mais que ele estava aguentando dar. Encarava as mesas dos bares como camas de consultórios. O garçom era o médico. Santas doses cavalares de soníferos destilados.
Quando a noite acabava ia para casa trocando em miúdos. Era a sombra do homem que havia partido para o tratamento diário. Mal conseguia achar a chave e acender a luz do corredor, que sempre parecia grande demais a noite. Não lembrava se havia dado o valor certo para o taxista. Não importava nada importava. Qual seria a hora, que dia deveria ser? A cabeça pesada suplicava pelo travesseiro. E depois de ser um paciente tão bom, ele tinha certeza que a cura era certa. Deitava, dormia e acordava no outro dia pensando em qual consultório iria se abastecer de remédio aquela noite.