2 de agosto de 2010

Mentira tem perna curta e usa meia colorida

"Quem se dispõe a mentir
sua fisionomia não sente
ainda que fale a verdade
todos lhe dizem que mente."

Todo mundo mente. Pode ser uma merda, mas é a verdade. Alguns mentem como cachorro de préa*, outros não assumem de jeito nenhum, aqueles que mentem pelas tripas de Judas* e tem os que dizem não aguentar mentira,  porém é fato: todo mundo mente. Já teve alguma situação que de tão constrangedora te fez soltar uma lorota. Sua mãe não podia saber aonde você passou a noite e pior, com quem. Seu namorado tinha que pensar que você estava com gripe e não podia ir ao almoço de 89 anos da vovó dele. Vai, não mente. Você já mentiu e bem provável que daqui há alguns minutos ou dias vai mentir de novo.

Eu já menti. Não me lembro quando foi a primeira vez e nem que tipo de benefícios ou malefícios (mais provável) essa mentira me trouxe. Deve ter sido pra minha mãe pra conseguir alguma vantagem sobre meu irmão ou pra não apanhar por ter quebrado algum item decorativo da casa. A verdade é que talvez não tenha dado certo porque minha mãe é um radar de descobrir mentiras.

Quando ainda uma pequena criança em 1997, eu mentia muito na escola. Sobre qualquer coisa boba. Sobre o que havia feito no fim de semana, sobre pra onde iria nas férias. A 4ª série foi o meu ano de mentiras. Mentia pra professora que minha mãe também era professora. Minha amiguinha achava que meu avô (o qual eu nem cheguei a conhecer já que ele morreu 6 anos antes do meu nascimento) tinha uma fazenda e que a criação de coelhos (?) era minha.

Minha vida de mentiras acabou quando ao conversar com a minha mãe a professora Marta soltou alguma coisa sobre eu ser filha de professora. Dona Edna (minha mãe) me desmentiu na minha frente. "Uai, mas eu não sou professora. Karolina anda mentindo". Eu, no alto dos meus 10 anos, despenquei com a cara no chão e jurei que nunca mais voltava pra escola. Voltei, é claro, com a cabeça cheia da lição "mentir é feio e Deus castiga" e a boca ardendo dos tapinhas.

Hoje em dia minto quando acho que a pessoa não precisa saber a verdade. Óbvio! Pra minha mãe nunca mais. Não vale a pena. Normalmente me sinto mal quando minto e morro de medo de que descubram, então prefiro não passar por isso. Percebi que dói demais quando descubro que mentiram pra mim. A sensação de saber que fui enganada me deixa mal e com um vazio enorme.

Mas sejamos sinceros, mentir é quase uma religião pra alguns e todos, uns muito e outros menos, já mentiu na vida. Os hipócritas e moralistas vão reclamar, mas é fato. Posso ter contado uma mentirinha ou outra no texto. Se você descobrir, fale a verdade.


*Mentir como cachorro de preá: diz-se de quem mente pra valer.
*Mentir pelas tripas de Judas: mentir deslavadamente.

(O nome da professora era Marlene e não Marta. Só pra você ficar esperto)