23 de fevereiro de 2011

Existem algumas histórias que fazem a gente querer abraçar o personagem, esteja ele vivo, ou não

Meu avô paterno era alcoólatra. Não foi um marido lá muito exemplar e muito menos o pai do ano. Eu não o conheci. Ele morreu quando eu mal havia completado um ano. Já ouvi um milhão de histórias dele. Do abandono, das brigas, do sufoco que minha avó passava quando sozinha tinha que costurar para sustentar os filhos.

Meu pai se chama Floriano. Esse é o nome do meu avô, que por estar bêbado e não se lembrar qual o nome minha avó havia escolhido, seguiu o conselho da enfermeira:

-Coloca o nome do senhor. Fica Floriano Kopko Júnior.

São coisas assim. Mas teve uma história que me fez esquecer tudo isso.

Um dia ele chegou em casa avisando que havia arranjado um emprego. Todo dia ele saia para trabalhar, todo mês ele voltava com dinheiro. Sempre muito elegante. 

Só que um dia alguém veio avisar para minha avó que tinha visto ele sentado num banco de praça na hora em que ele deveria estar trabalhando:

-Vanda, vi Floriano sentado na praça da matriz tal hora.

Foi aí que o velho Floriano contou. Estava tão envergonhado de estar desempregado que havia inventado que tinha arranjado um trabalho. Todo dia saia para procurar, mas cansado de não encontrar nada, se sentava no banco e esperava dar a hora de voltar para casa. Como ele arranjava dinheiro ninguém sabe ao certo. Meu pai acha que ele pegava emprestado.

Na hora que meu pai me contou essa história, pensei na vergonha que o vô sentiu. Esqueci todas as outras coisas e quis abraçar o seu Floriano Kopko. Quis dizer que ele era meu avô e que sempre seria assim.