7 de setembro de 2011

Bom dia!


Ela acorda todo dia como se acordasse todos os dias da vida juntos. A vontade de sair da rotina é o que a move, mesmo que ela tenha certeza absoluta que tudo vai continuar igual ao que foi no dia anterior. Ouve gritos e risadas do lado de fora do quarto. Ouve o telefone tocar. Ouve os carros passando na rua. Ouve alguém cortando a grama. Coloca a cabeça embaixo do travesseiro para sumir com aquela barulheira.

Ela tem medo de levantar da cama. Descer do colchão não é tão banal quanto parece para algumas pessoas. Os chinelos estão lá só esperando os pés que receosos se escondem no cobertor. Ela não quer levantar. Tem dias que acha que não motivos. Tem dias que, motivo até tem, o que falta é vontade mesmo.

O banheiro é frio não importa a hora do dia. Tomar banho mesmo no calor é bastante difícil. A pia bagunçada, os cabelos na escova, a pasta apertada pela metade. Nada daquilo sempre agrada. Para chegar ali passou por um espelho que, muito cortêz, ela ignora. Mas o que está agora na sua frente é inevitável. Ele está ali só esperando o momento de jogar na cara dela a cara dela. O rosto amassado, as olheiras, os dentes por escovar, as espinhas que aparecem como se ela ainda fosse uma adolescente. Está tudo dentro do espelho. Está tudo nela.

E amanhã será tudo a mesma coisa.