12 de dezembro de 2006

(5 e último)

E depois tocou mais uma e mais outra e no fim saiu música toda. Uma música bonita que tinha o nome da Rita, mas que não era de amor, não. Era como ia ser se a Rita abandonasse Joaquim. A música era de um moço famoso que tinha olhos azuis e nome de santo. Joaquim esticou as notas que era como a Rita gostava, tocou de olhos fechados que era como a Rita gostava e quando terminou abriu os olhos e viu que os rostos da Rita ainda estavam lá olhando pra ele com os cabelos cor do sol e os olhos cor do campo mais verde. E o aperto da saudade aumentou naquele segundo que ficou silêncio. Ele percebeu que o tempo todo queria era ta com a Rita e não ali tocando flauta, a flauta que ele só tocava pra ela, pro resto d mundo.
E quando ele ia saindo pra voltar pela distância pra abraçar Rita e nunca mais sair de perto dela, o povo explodiu em palmas e gritos. Todo mundo tinha achado a apresentação de Joaquim uma belezura de se ouvir e ver. O apresentador já falava “Aí minha gente, Joaquim, o flautista da Rita com sua beleza de apresentação. Parabéns, Joaquim”. E Joaquim ali, sem entender e só sentindo saudade da Rita. E o povo dizendo “você vai ser pessoa importante se continuar a tocar assim” e Joaquim respondendo “eu lá quero ser pessoa importante? Eu quero é a Rita”. Joaquim tentando ir e o povo puxando ele de volta.
De tanto não o deixarem ir, Joaquim se zangou, pegou o microfone e danou-se a falar. “Rita olhe, eu vim pro resto do mundo pra lhe agradar, mas o meu agrado ficou com você aí na lonjura que você ficou. Você quer que eu seja pessoa importante pra poder comprar uma casa na praia pra você, mas a praia nem merece que você fique perto dela, porque a sua beleza é maior que a dela. Nada no resto do mundo se compara a sua beleza, Rita. É por isso que eu to voltando e sendo pessoa importante ou não e com você que eu quero estar, porque você sim, é pessoa importante pra mim”. Terminando de falar, largou o microfone no chão, mas com cuidado que era pra não quebrar, pediu licença, porque ele ainda era um homem educado, e saiu correndo que dali ele ainda tinha um mês pra chegar na Rita.
...
E foi quando chegou do resto do mundo que Joaquim finalmente se sentiu pessoa importante. Tava era a cidade toda ali na praça esperando por ele com faixas, balões, sorrisos, braços esticados e palavras bonitas. Joaquim ficou tão feliz que a canseira da viagem passou que nem chuva de verão e olha que ele tinha medo de pingo de chuva. Falou com todas as pessoas que estavam lá. Uma por uma porque Joaquim era pessoa educada. Foi nessa falação toda que ele viu Rita. Lá parada com seus olhos e seus cabelos e aquele vestido que Joaquim tinha era gosto de ver ela vestida.
...
A noite passou foi num pulo, mas foi a noite que passou num pulo mais aproveitada por Joaquim. A Rita tava lá com ele e só queria que aqueles instantes não passassem mais. Porque ô coisa que demora pra passar é a saudade, parece que gruda que nem chiclete no cabelo e você têm que ficar ali tentando devagarzinho desgrudar.
E quando finalmente o sono veio, Rita com sua voz doce e cheia de dengo pediu:
-Joaquim, toca uma música bonita pro meu adormecer?
E mesmo com aquele sono todo que ele tava, qual era o pedido, mesmo que doido, da Rita que ele não atendia? Tocou e foi a vez que ele tocou mais bonito e foi a vez que ele se sentiu pessoa mais importante.