12 de dezembro de 2006

(4)

A apresentação de Gabo, o homem-banda foi de encher os olhos de qualquer um de lágrimas. Os de Joaquim se encheram no momento que ele viu que Gabo tocava tarol. E quando o viu danou-se a explicar, pra si mesmo, o que era um tarol: “é o menor tambor da orquestra. Possui aros de metal e tarrachas para distender as peles. Possui uma sonoridade mais aguda. Normalmente, é encontrado apenas um instrumento destes na orquestra”. E ficou satisfeito em saber que Gabo sabia tocar, e muito bem, o tarol., pois toda banda deveria ter um tarol e ele, Joaquim, se não tocasse flauta iria tocar tarol. A única coisa que ele não gostou foi do nome “Gabo”. Que diaxo de nome mais esquisito, pensou Joaquim. No fim descobriu que o nome de Gabo era, na verdade Gabriel e conclui por si só, que “Gabriel” era mais bonito que “Gabo”, já que era nome de anjo e anjo importante, por sinal.
Mas a apresentação de Gabo tava era acabando e Joaquim ainda não sabia como dá jeito na vergonha. Ele não ia conseguir imaginar vários rostos da Rita na platéia e nem no resto do mundo, porque rosto da Rita só existia um e era da Rita, ora essa. Mas aí veio o nervosismo, mas aquele nervosismo que as pernas viram mula empacada e não obedecem, os braços ficam duros de que nem solo do sertão e a voz some que nem brigadeiro em festa de criança. Tinha que dá jeito, mas de que jeito?
Foi aí que ele ouviu o apresentador falando “Muito bem! Essa foi a belíssima apresentação de Gabo, o homem-banda. Ótima performance com o tarol. E finalmente nossa última atração da noite. Ele veio das lonjuras do mundo para ser pessoa importante e trazer a namorada pra morar numa casa na frente da praia. Vamos ver se ele consegue. Em uma apresentação de flauta, com vocês Joaquim, o flautista da Rita.” A cada palavra dessa o estômago de Joaquim saia pra tomar ar pela boca dele. As pernas não obedeciam, mas ele acabou sendo empurrado por um moço apressado com umas bolas na orelha.
“Finalmente aí está ele, Joaquim, o flautista da Rita”.
Foram muitos os aplausos, eram muitas as luzes e demais eram as pessoas. Joaquim ali parado na frente do resto do mundo com sua flauta na mão só conseguir lembrar da Rita dizendo “pensa que todo mundo tem o mesmo rosto que eu”, mas tava era difícil. O povo foi ficando impaciente, o apresentador foi ficando impaciente, mas a vergonha de Joaquim tinha toda paciência do mundo.
No momento em que ele ia ser colocado pra fora do palco debaixo de uma enxurrada de vaias, Joaquim pensou que a Rita devia ta assistindo e vendo ele todo cagão ali em cima do palco sem conseguir nem dizer ‘bom dia’ pro resto do mundo e pensou em como ela queria que ele tocasse e virasse pessoa importante. Foi aí que ele viu o primeiro rosto da Rita sentado na primeira fila e de repente os rostos da Rita começaram a surgir em todos os lugares e no momento que ele tava era pra ser jogado do lado de fora, ele tocou a primeira nota.