11 de dezembro de 2006

O flaustista da Rita (1)

Joaquim vinha de longe, tão de longe que cansava só de pensar. Ele mesmo tinha demorado um mês pra vir de lá.
Joaquim tinha medo de cobra, de pingo de chuva e de telefone tocando.
Joaquim sabia tocar flauta, mas só tocava pra Rita, porque das outras pessoas, Joaquim tinha era vergonha.
Rita era a menina moça que Joaquim mais achava linda. Rita tinha os cabelos da cor do sol, mas o sol mais dourado do verão, os olhos da cor do campo mais verde. Só a Rita sabia como Joaquim tocava flauta bonito. E por isso foi Rita quem encheu as idéias de Joaquim para que ele viesse de onde ele veio pra tocar flauta pro resto do mundo.
Joaquim achava o resto do mundo um tanto que complicado demais. Ele não sabia pra existiam tantos tipos diferentes de televisão, porque pra ele aquela que mostrasse a imagem era a melhor. Mas Joaquim nem gostava muito de televisão, quem gostava mesmo era Rita. Joaquim gostava de música. Qualquer música que tivesse a letra bonita, principalmente as de amor. Casais apaixonados, desencontros que se sabe que vai ter reencontro. Essas músicas faziam Joaquim lembrar de Rita.
Joaquim foi pro resto do mundo por capricho de Rita. Ela queria que Joaquim fosse rico e famoso pra ela ser também. Joaquim não sabia que o resto do mundo era tão mais complicado do que ele achava que era.
Quando Joaquim chegou da lonjura toda que ele andou, viu foi um bocado de gente que andava de um lado por outro sem nem cumprimentar. Todo mundo era tão cheio de coisa pra fazer que Joaquim achou que tava era muito desocupado ali no meio.
Tinha que achar o tal produtor de televisão que Rita tinha falado que ia fazer dele gente importante e quando isso acontecesse ia poder trazer Rita lá de longe pra viver numa casa na beira da praia com cerca branca e antena parabólica.
Joaquim nem sabia se ia conseguir tocar pra mais gente. A vergonha que ele tinha era grande por demais. Tentava o tempo todo lembrar do conselho de Rita “pensa que todo mundo tem o mesmo rosto que eu”, mas como que isso ia acontecer? Rita tinha o rosto mais bonito que Deus fez nesse mundo e também nos outros, como que ele ia conseguir imaginar que as outras pessoas, que muitas vezes nem era bonitinhas, tinham o mesmo rosto enluarado da Rita?
Ia fingir que não tinha achado era homem nenhum, voltava pela distância e tudo ficava normal. Mas pensou na Rita e pensou que Rita queria era muito que Joaquim tocasse flauta pro resto do mundo e pensou que ali naquele instante ele tava com um dilema, mesmo não sabendo direito o que dizia essa palavra, nas mãos.
Fez que pensou, pensou de verdade, pensou e fingiu que tinha chegado numa solução, pensou e fez cara de confuso e continuou confuso mesmo. E nesse tempo de pensação acabou chegando onde Rita disse que o produtor tava.
Agora não tinha mais jeito, ia falar com o homem e resolver logo essa pendenga.