4 de janeiro de 2007

Onze "lembranças" idiotas da minha infância

Quando eu era pequena tinha medo de ninguém gostar de mim e acho que ninguém gostava mesmo. Eu era um porre, me achava a princesa encantada, era chata e medita. Mesmo tendo medo de ninguém gostar de mim, eu fazia tudo ao contrário.
Quando eu era pequena, eu mentia. Eu falava que meu avô tinha uma fazenda e que nessa fazenda se criavam vários animais e a criação de coelhos era minha. Isso porque o avô de uma amiguinha tinha uma fazenda, na verdade uma chácara. A realidade dela era mais humilde que a minha fantasia.
Quando eu era pequena queria que minha mão fosse professora. Eu cheguei para a minha professora da 4° série e disse que minha mão também era professora. Na reunião de pais, a professora falou pra minha mãe que eu era muito inteligente, mas que isso era de se esperar de uma filha de professora A minha mãe sentiu vergonha de mim e eu passei uma das maiores vergonhas da minha vida aquele dia. Quando eu era pequena queria casar com 20 anos e ter 10 filhos. Sabia como seria tudo, da decoração da igreja ao nome de cada filho. O primeiro se chamaria João e seria advogado.
Quando eu era pequena tinha medo de morrer. Meu pai sempre falava que depois que a gente morria se ainda tivesse contas a pagar era obrigado a reencarnar e nisso nascia em outro corpo e em outra família e eu não queria me separar da minha mão, acho que até hoje eu penso assim.
Quando eu era pequena pensava que a qualquer momento veria espíritos, porque eu tinha certeza que era médium, mas tinha um medo danado dessa minha condição. Nunca vi sequer uma sombra pra contar história.
Quando eu era pequena adorava pegar os sapatos de salto da minha mãe e fingia que era uma super empresária. A minha maleta era uma mala de facas pra churrasco do meu pai.
Quando eu era pequena brincava de ser a popular da escola, talvez pra suprir a falta de popularidade na escola de verdade. Todo mundo me amava e eu era a neta mais querida e a que herdaria tudo do dona da escola. Era rica, linda e tinha o namorado mais rico e lindo da escola.
Quando eu era pequena beijava as paredes. As da minha casa eram todas cheias de marcas de batons de todas as cores. Morria de vergonha quando minha mãe me mandava limpar.
Quando eu pequena morria de vontade de usar parelho nos dentes, tanto que colocava papel alumínio para imitar, mas a minha mãe não deixava, e com toda razão, porque aquilo estragava meus dentes e podia me deixar doente. Um dia faltou luz e eu achei que era a minha vez de usar na frete de todo mundo e ela não brigar, mas um irmão viu o reflexo da vela nos meus dentes e falou pra minha mãe e ela me mandou tirar, claro.
Quando eu era pequena tomava banho de porta aberta por medo da brincadeira da caneta, comia catarro quando meu nariz escorria, cheirava minhas meias antes e depois de usar, comia borracha, cheirava cola branca e fingia que tava com dor de cabeça ou de barriga só pra não ir para casa da minha avó aos domingos.