9 de fevereiro de 2007

Meu orgulho

Meu pai veio do Paraná com 18 anos para servir o exército. Veio de uma cidade minúscula para outra que igual ele só tinha 18 anos. Era o sonho de qualquer um vir para Brasília e começar em um lugar que também estava só começando.
Chegou aqui em uma noite chuvosa. Aflito, dentro de um ônibus com mais 40 jovens aflitos como ele. De repente o sonho virou algo parecido com um pesadelo molhado, quando o porteiro do quartel ao abrir o portão diz: - Bem vindos ao inferno! Aquilo não podia ser pior.
O que ele mais sentia era saudade da mãe, dos amigos, da vida, não fácil, mas conhecida que levava na sua pacata cidade.
Minha mãe veio da Paraíba novinha, novinha. Ainda não tinha feito nem a sétima série. Estudou em uma das escolas públicas mais conhecidas de Taguatinga, a EIT e ainda nem tinha acabado o segundo grau quando em uma tarde de calor foi ao Parque Nacional de Brasília, mais precisamente à Água Mineral e conheceu um “reco” loiro, de olhos azuis e que tinha um sotaque engraçado, quase cantado.
Meu pai voltou pra Paraná depois que pediu baixa do exército, mas não ficou nem 3 meses lá, por saudade da moça de cabelos pretos e sorriso tímida, mas também por não querer dar o braço a torcer pra irmã que ao vê a mãe chorosa disse: “calma mãe, não dou um mês pra voltar”. Ele até hoje não deu o braço a torcer. Minha mãe morava na ‘M-Norte’ que meu pai diz que tinha apelido de ‘planeta dos macacos’. Meu pai ia andando do ‘Cruzeiro’ até lá. Atravessava a Via Estrutural toda, mas ia.
Casaram na Igreja Dom Bosco, acenderam o lustre e tudo. Meu pai não tinha ninguém aqui, por isso tiveram que fazer o lado da noiva na igreja toda.
Andavam de ônibus, batalhavam muito. Minha mãe de secretária, meu pai no depósito. Até que nasceu João Gabriel Kopko, o primogênito. Nisso eles já estavam morando no ‘Setor O’. Pra Karolina Kopko, a caçula, foi um pulo.
A casa demorou pra ser própria. Só depois de muito tempo e de muito trabalho veio o tão sonhado ‘lar doce lar’ lá no ‘P-Sul’. Aí veio o ‘Vicente Pires’ depois de nove anos, mas essa ainda ta pra acontecer. No meio do ano, se Deus quiser.
A vida dos meus pais nunca foi fácil, sabe? Meu pai tinha que pedir roupa emprestada pros amigos pra ir encontrar minha mãe. Logo que eles casaram tiveram que morar no apartamento de um amigo. Minha mãe perdeu um bebê nesse apartamento.
Hoje as coisas não continuam fáceis. O dinheiro não transborda pelas torneiras, mas eu sei que meu pai ainda sente a mesma coisa pela moça de sorriso tímido que ele conheceu na Água Mineral, mesmo ele brincando que na próxima encarnação não vai lá e se precisasse ele atravessaria a Estrutural a pé só pra ver - lá. E a minha mãe ainda acha o sotaque dele engraçado, mesmo ele não tendo mais sotaque é que pra ela, ele é o mesmo “reco” loiro, de olhos azuis que ela conheceu na Água Mineral.