Para minha mãe as coisas possuem lugares certos e nada deve retirá-los de lá e se for pra tirar “coloca de volta e não deixa rastro”. Não sei se essa idéia tem a ver com o fato de eu nunca guardar as coisas, de sempre deixar espalhado, ou jogado, ou quase no lugar certo. Ela detesta esse “quase”, não existe “quase” para minha mãe.
Quando eu era pequena sempre que ela me chamava eu dizia “já vou”, aí ela me chamava de “Maria Já Vou”. Mas esse foi um apelido que não durou muito, eu parei de falar “já vou” e passei a gritar pela casa “tô indo”. Ela se cansou de chamar e passou a jogar as coisas na minha cama pra eu arrumar.
A minha mãe nunca foi uma das mães mais carinhosas do mundo. Não que ela não seja, mas ela nunca me abraçou assim por nada e nem ficava falando “lindinha da mamãe” na frente das pessoas. Talvez tenha sido bom ela nunca ter feito isso na frente das pessoas porque adolescentes não gostam de carinhos em público dos pais, mas eu nunca senti essa digamos “vergonha”. Hoje em dia eu penso que talvez nem fosse vergonha e sinto falta da minha mãe nunca ter feito isso.
Ela já disse que eu sou feia, mas isso talvez eu tenha certeza que era por brincadeira.
Minha mãe é uma mulher forte. Minha mãe me agüenta com raiva e só diz: “você ta ficando chata”. Ela sabe que eu não a agüento mexendo nas minhas coisas, mas ela mexe mesmo assim e ainda diz que se não fosse por ela, eu não acharia nada no meu quarto. Minha mãe faz a lasanha de pão que eu mais gosto, mas faz carne moída com batata e me deixa sem comer carne aquele dia. Ela tem o dom de me irritar com certas opiniões, mas sabe me fazer rir quando fala umas coisas nada a ver.
Minha mãe é meu oposto, mas um oposto que é quase a mesma coisa. Ela me deixa envergonhada quando fala pro meu pai coisas sobre meus problemas ginecológicos, mas é discreta quando meu namorado tá perto.
Ela me irrita, me faz gritar, me belisca, me dá cascudo e isso tudo com muita força, mas ela traz coalhada quando eu tô a quase cinco horas fazendo trabalho sem comer.
