10 de junho de 2007

Suspicious Minds

Foi ouvindo Elvis que ele percebeu que tinha feito a maior besteira da vida dele. Foi ouvindo Elvis que ele se deu conta que a vida junto com ela era completa ou quase, mas era uma coisa que sem era impossível ser: era mais colorida.
Logo ele que sempre detestou Elvis, cores e saudades. Ela não, ela gostava de Elvis e músicas dos anos 50. Aquele cantor era a cara dela. Ela sabia que ele não gostava, mas mesmo assim insistia pra que ele ouvisse e ele sempre soltava um mugido chocho, fechava os olhos, a abraçava e pensava: “já que é pra agüentar isso, vou fazer de uma maneira agradável”.
Mas foi ali sentado no sofá com a luz desligada ouvindo Elvis que ele percebeu que deveria sempre ter gostado daquelas músicas. Ela tinha ido embora, ele não tinha ligado, ela não voltou depois de duas horas como sempre fazia e ele nem ligou.
Ele encheu a paciência dela com ciúmes besta. Disse que não queria saber dela de conversinhas com aquele novo colega de escritório. Ela teve seus argumentos esgotados, seus suspiros jogados fora, suas lágrimas soltas em vão. Ele era duro como uma pedra, teimoso como uma mula empacada Não a queria de conversa fiada com aquele cara e ela tinha que respeitar isso.
Não adiantou ela dizer que ele era seu ajudante e era inevitável falar com ele. Não adiantava dizer que o rapaz não representava nada, que ela o amava e isso é que era importante. Ou ela despedia o cara, ou pedia demissão, ou o era ele quem pedia demissão daquele namoro.
Ela se encheu. Ele não tinha o direito de pedir uma coisa daquela. Ela estava pra explodir. Ele começou a reconsiderar no momento que viu que ela estava se zangando de verdade. Mas no momento que ela disse “melhor assim, ele pelo menos gosta de Elvis”, ele não agüentou. Ela o tinha ferido.
Mas agora ali sentado naquele sofá feio que os dois tinham comprado por ser mais barato e ouvindo aquela música sendo cantada por aquela voz rouca, ele viu que a vida dele não tinha cor. A casa tinha perdido a cor, os movei não tinham cor. A cidade não tinha cor. Ele estava em um filme dos anos 50, preto e branco e a trilha sonora era Elvis.
Levantou-se e foi até a cozinha. Quem sabe ainda tinha vinho na geladeira. Quem sabe ela não estava escondida atrás da porta e quando ele fosse abrir, ela saltava e lhe pregava um susto. Nada, nem vinho e muito menos ela. Mas tinha um bilhete. Ele abriu, leu e chorou. Logo aquela música? Abriu a porta e saiu, não queria mais viver naquela vida que ele mesmo havia descolorido.
Quando bateu a porta o bilhete voou e ali escrito com a caligrafia redonda dela: You were always on my mind.