29 de março de 2010

Não há porque chorar por um amor que já morreu (1)

Nada que eu falasse ou fizesse iria acabar com a dor que ele estava sentindo. Em minha opinião um amor já acomodado não merecia ser chorado daquela maneira, mas para ele ainda existiam motivos para o desespero.
Bruno conheceu Vitória quando ainda eram crianças, na aula de piano. Aulas essas, aliás, que ele só passou a gostar depois que descobriu que a mãe não o obrigaria a fazer os deveres de casa enquanto ele as frequentasse. Para a mãe, Sônia, as aulas eram a oportunidade de Bruno desenvolver um talento que ela acreditava ter, mas que nunca teve chance de lapidar. Para o pai, Jair, era mais uma maneira da mulher de jogar dinheiro fora. Era visível que o menino não gostava e nem tinha talento para tocar piano. Para o irmão, Diego, não era nada porque ele estava se lixando para o que Bruno fazia ou deixava de fazer. Bruno não acreditava que fosse ser tonar o “Chopin da mamãe”, mas ir às aulas lhe rendia alguns privilégios em casa.
Em uma das aulas na qual ele fingia estar concentrado numa partitura complicadíssima, Bruno percebeu que a professora conversava com alguém. Alguém pequeno e com o cabelo mais vermelho que ele já tinha visto na vida. Era Vitória que pela primeira vez entrava no campo de visão do menino e ele teve certeza naquele instante que nunca mais sairia.
Vitória começou a fazer piano aos três anos, mas a professora que sempre a tinha acompanhado decidiu se aposentar e a menina precisou procurar um novo tutor. E que sorte a de Bruno que logo a sua rabugenta professora tinha encantado a menina ruiva.
Bruno nunca tinha namorado. Aos 11 anos ele ouvia as conversas dos amigos que contavam com detalhes suas peripécias com meninas, algumas até mais velhas. Ele achava que era tudo mentira e aí aproveitava para mentir também. Eram mentiras inacreditáveis, até mesmo para meninos de 11 anos, mas para Bruno o importante era não parecer bobo e criança. Mesmo sendo exatamente isso que ele parecia enquanto mentia.