25 de maio de 2010

Equívoco

O que a fazia ser distante era a distância com que ela havia sido tratada a vida inteira.

Não conheceu o pai, sabia que ele existia porque tinha absoluta certeza que mãe não teria gastado um centavo para fazer uma inseminação artificial. Então existia um homem que fez o que deveria ser feito para que uma criança fosse gerada e ele era seu pai. Nunca se importou muito com isso e também, quem iria querer conhecer alguém que nunca deu a menor pelota para sua vida.

A mãe sempre esteve lá, mas na verdade, era como se não estivesse a maioria do tempo. Não era de maldade que ela era ausente. Só estava cumprindo o papel de mãe solteira que precisa trabalhar em dois empregos para sustentar a filha. Por isso não a culpava.

Se refugiava nos amigos que na maioria das vezes a metiam em encrencas quase sem soluções. Mas para quem não tinha ninguém que se preocupasse, antes estar em encrenca acompanhada do que numa boa sozinha. Tinha dois nos quais ela confiava, eram as encrencas mais bem planejadas. Os outros eram personagens efêmeros, mas não menos importantes para a biografia que ela pretendia escrever um dia. Precisava ganhar dinheiro com a vida que levava.

Procurava brigas para descansar da benevolência de desconhecidos. Não tinha paz. Os sonhos eram atormentados por imagens de pessoas que ela não conhecia chamando seu nome e dando conselhos sobre como ser grande e ter sucesso profissional.

Queria que o mundo se consumisse em caos.

Queria que o caos a consumisse.