1 de junho de 2010

Tenho que confessar...

Um cavalo tem quatro patas. O Saci tem só uma perna. E eu tenho duas cheias de hematomas que surgem silenciosos, às vezes doloridos e somem sem deixar vestígios. 

Eu me revelo tímida de verdade, principalmente quando preciso enfrentar situações novas. Tão logo fareja uma brechinha, o obstinado bicho-do-mato que me acompanha assume as rédeas e se manifesta sob pequenos atos, incômodos porque uma das crueldades da timidez é justamente converter o nada em algo gigantesco. Nessas horas, eu economizo palavras e movimentos, gaguejo, só não como as unhas porque larguei esse vício já vai fazer um ano, entorto os pés, mantenho os olhos abaixados e imagino coisas que não existem. "Você é muito tímida, né?!", pergunta a psicóloga. "Sim, infelizmente. Já melhorei muito, mas às vezes ainda me pego com muita dificuldade em certas ocasiões. Um problema..." A psicóloga prossegue (quanta maldade): "De fato. Sua postura me lembra os tímidos". Eu concordo e digo de maneira enfática: "Totalmente! Tenho um jeito de corpo errado, né? Às vezes acho que tenho uma corcunda". Mas a corcunda que provavelmente aparecerá daqui há algum tempo pela minha péssima postura, ainda não está aqui.

Tenho 23 anos e ainda não entrei de cabeça na vida adulta. Acho que por não acreditar que exista uma vida adulta de verdade. Adoro parques de diversão, quando tenho oportunidade acho divertido jogar videogame e uso algumas roupas que lembram crianças indo para a escola. No meu quarto há uma parede cheia de fotos e outra vermelha e o móveis são cobertos por uma fina camada de poeira que eu preguiçosamente sempre esqueço de limpar. 

Gosto de rock. Sou fascinada não apenas pela loucura e pela barulheira. Aprecio sobretudo as atitudes e pensamentos deslocados que o som das músicas desperta e o transe que os fãs mergulham quando o ouvem. Queria muito fazer uma tatuagem. Agrada-me a ideia de marcar a pele com desenhos e letras e transformar o corpo em uma tela ambulante. O que mais me fascina é a certeza de que aquilo é para sempre. E eu acredito  no 'pra sempre'.