25 de abril de 2007

Meu caro companheiro de tragédia

Eu preciso te encontrar. A gente precisa falar as coisas que ficaram mudas, mortas nas nossas bocas, ou nas nossas cabeças. A gente precisa ao menos dizer ‘adeus’, apesar de eu ter certeza de não saber dizer ‘adeus. Palavra difícil essa. Pra você não?
Aprendi que o amor que eu te dei era o único amor que eu conseguia amar. Não foi o amor mais perfeito, nem esperava que fosse, mas foi um amor. Não um amor em letras garrafais e de cor vermelha, mas um amor meu pra você.
Eu queria poder voltar pra casa sem ter culpa de ter te mandado embora. O sofá me olha torto, a TV já não brilha mais, o som se recusa a agradar meus ouvidos com músicas que fala de amor ou de qualquer coisa que seja agradável. Agora mesmo eu esqueci de desligar a luz e a geladeira me reprovou imensamente. Aliás, ela vive vazia e eu vivo de estômago roncando de fome de alguma coisa que além do que se pode guardar na geladeira.
Não me arrependo do ‘no happy end’ do nosso relacionamento. Existem certos de tipos de namoro (o que a gente tinha podia ser chamado de namoro? há muito não mais) que estão fadados à tragédia, sendo ela grega ou de telenovela das 6h. O nosso era um deles, se fosse findo com um par de sorrisos amarelos e um sacolejar de mãos apressadas e cordiais não teria valido a pena nenhum segundo da nossa existência em conjunto.
Era isso! Nós tínhamos uma coexistência. Um dependia do outro pra sobreviver, mas uma dependia quase química e prejudicial a terceiros.
Nos últimos tempos ou talvez sempre, sobrava espaço no nosso abraço, faltava saliva no nosso beijo, eu me enchia com a sua impaciência e você se zangava com a minha paciência.
Éramos e somos diferentes e no momento que eu disse “você diz que me ama, mas me deixa aqui pra morrer”, eu morri pra você e eu não sabia mais o que tinha que saber.
Agora eu só queria dizer as últimas palavras de um relacionamento destinado ao fim. Queria só saber se antes do fim, você tentou manter ele vivo.
Se a culpa é de alguém eu não sei. Se foi minha, eu não tentei me desculpas e se foi sua você deixou passar. Estamos bem longe um do outro, mas eu queria que o microondas parasse de me culpar por não ter mais seu leite pra esquentar de manhã.
Quero dizer ‘adeus’ pra essa sensação de dever cumprido mal feito.Quero dizer ‘adeus’ mesmo não sabendo e sabendo que é isso que deveria ter sido feito desde o começo.

Daquela que sempre acreditou em finais estranhos pra novelas sem audiência.